Retalhos de uma Manta Inacabada

Sou uma manta, cuidadosamente, tecida com os mais puros retalhos de seda selvagem e burel, cujas cores o tempo se encarregou de avivar ou desmaiar. Nela vão resistindo pequenos retalhos do bibe de xadrez com que brincava no jardim encantado do sonho. Num dos lados, repousam enormes retalhos de todos aqueles que já partiram, mas que conservarei para sempre no meu coração. No outro lado, estão todos aqueles que ainda posso tocar e amar.

Nome:
Localização: Aveiro, Portugal

Eternamente crisálida...

domingo, maio 21, 2006

Tronco esculpido de esperança


É contra a podridão das almas que me insurjo porque o ser, mesmo carcomido dos anos e das intempéries, mantém-se sempre firme bordejando qualquer caminho solitário.

O corpo, mesmo que a escuridão do caminho o tente cobrir com seu manto de sombras, continua erguido com as raízes mergulhadas no lago da esperança e tronco erecto em direcção ao além que o fascina.

Não há sol… chuva...vento…tempestade… que o impeça de alcançar esse Éden que procura por entre a infinidade das almas que respiram.

Maria Rosmaninho

domingo, maio 14, 2006

Grito ensurdecido


Dá-me a tua mão, meu amor!
Quero sentir o teu doce calor,
Dedilhar a tua pele macia,
Colar-me nela até ser dia…
Quero sentir o calor do teu olhar
E no seu brilho me enovelar…

Estendo para ti a minha mão
E só apalpo a eterna solidão.
Abraço em mim a fúria de viver,
Mas nada mais há para vencer.
Descanso agora o rosto entristecido,
Num colo que outrora foi teu abrigo.

E o som desta nova madrugada
É o som desta alma amargurada
Gritando em convulsões de dor
Num peito que já foi ninho de amor.

Maria Rosmaninho

quinta-feira, maio 11, 2006

Sinfonia de orvalho




Nesta nova manhã que aclara, sente-se o chilrear dos pássaros esvoaçantes, por entre tímidos raios de sol levemente orvalhados com o fresco aroma das flores primaveris.

Pelas frestas da portada entreaberta, esgueira-se uma luz tímida e morna que beija suavemente a minha pele desperta pelos teus lábios adocicados.

Sinto o calor do teu corpo que desperta para um novo dia, agora relaxado pelo sono reparador em que embalámos o prazer de uma noite de amor…

A suavidade do teu toque penetra-me, novamente, em arrepios de prazer confundidos na sinfonia do marulhar das tuas palavras que penetram, voluptuosamente, os meus ouvidos.

Tombo, delicadamente, a minha cabeça no teu peito palpitante e sinto os teus dedos vagueando por entre as madeixas do meu cabelo, enquanto os teus lábios exploram o meu pescoço sedoso. Pouco a pouco, penetramos por entre os lençóis de rosas cujo perfume resistiu ao calor da noite e… abraçamo-nos…

Este calor que nos aquece já não é o dos primeiros raios deste sol primaveril… é o calor de um vulcão perfumado com pétalas das rosas selvagens… polvilhadas com o pó do talco derramado pelo crivo dos nossos poros em brasa.

Maria Rosmaninho

domingo, maio 07, 2006

Quero o teu mimo...



Mãe…onde estás que já não sinto o teu olhar?

Para onde te levaram as sombras que sempre nos perseguiram?

No silêncio da noite ergo a cabeça e tento escutar-te… chamo por ti e tu não me respondes, mãe! Deslizo as minhas mãos pelos lençóis e sinto a tua presença, mas não te ouço… não te vejo…

Mãe…mãe… anda para junto de mim. Senta-te ao meu lado e toca-me nos cabelos de que tanto gostavas. Deixa-me ouvir a tua voz melodiosa de quando me perguntavas:
-- Gracinha… está tudo bem, minha filha?

Mãe… chamo tantas vezes por ti… peço-te que me ajudes a ser feliz, mas tu não me escutas.

Quando regresso da escola, olho para o banco onde estavas sentada a sorrir para mim… o banco está agora carcomido… as lascas da tinta esvoaçam ao vento… o pó entranhou-se nas fissuras da minha alma.

Onde estás, mãe? O sol já aqueceu e espera por ti nesse banco onde se sentaram todos os que amei e já partiram.

Sabes… o teu quarto está fechado desde o dia que partiste para a tua longa viagem e a janela continua semi-aberta para que possas olhar o quintal que floresce.

Junto à tua janela floresce agora o alecrim com que decoravas o meu ramo de Páscoa… lembras-te, mãe? Tem ramos lindos para decorares a cruz dos teus meninos em Domingo de Ramos e o aroma que dele se exala lembra-me o cheiro do rosto com que me beijavas.

Mãe porque me deixaste assim só? Porque não me levaste contigo para ver o meu pai? Tenho saudades da voz dele… diz-lhe que quando for para junto de vós quero ficar bem aconchegada no vosso colo com o boneco que me ofereceste quando o pai partiu… quero sentir os vossos beijos e o mimo das vossas mãos.

Mãe… estende a tua manta por cima de mim e deixa-me voltar aos dias em que brincava debaixo do limoeiro a fazer quintalinhos dos junquilhos que cuidavas para mim.

Mãe… fica junto de mim até à hora da minha partida.

Amo-te minha MÃE!

Maria Rosmaninho



sexta-feira, maio 05, 2006

Caminhando ao acaso



Apetece-me caminhar por esses caminhos ásperos bordejados de flores, com os ramos a bater no rosto e os raios do sol a penetrarem a minha alma que contempla essas bolas de algodão carinhosamente coladas a sua mãe…

A água escorre por mim dentro e penetra nesses cantinhos bem recônditos … banha-me com a luz fraca do Sol que em breve dará lugar à da Lua…

O pó do talco destes caminhos perfumados em tons de verde e ocre, penetra nas rugas que espelham um tempo passado e desejado… um tempo que eu quero voltar a viver com as cambiantes de um arco-íris cintilante num céu azul espelhado neste lago agora opaco.

Penetro no âmago desta floresta de sombras leve
mente rasgadas por um ou outro raio de sol que fere, dolorosamente, as folhas das árvores centenárias, em gemidos de dor que anseiam por cânticos de vida.

O caminho é agora mais íngreme… a árvore que jaz inerte no chão… qual guerreiro derrotado numa batalha sangrenta, aponta um caminho bordejado de luz que conduz à porta cintilante do um mistério a desvendar.

Maria Rosmaninho

quinta-feira, maio 04, 2006

Impressões do Crepúsculo



Sou um lago deserto onde bóiam farrapos de folhas desprendidas das árvores verdejantes de outrora.

Águas paradas espelhando, numa verticalidade negra, nesgas de um céu azul que teima em rasgar esse lago…outrora esfuziante de vida e cor.

E o verde que teima em cobrir as pedras enegrecidas pelo tempo é o som de um novo dia que brotará para a vida, como hastes floridas em tons feitos de luz.

Maria Rosmaninho

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