Retalhos de uma Manta Inacabada

Sou uma manta, cuidadosamente, tecida com os mais puros retalhos de seda selvagem e burel, cujas cores o tempo se encarregou de avivar ou desmaiar. Nela vão resistindo pequenos retalhos do bibe de xadrez com que brincava no jardim encantado do sonho. Num dos lados, repousam enormes retalhos de todos aqueles que já partiram, mas que conservarei para sempre no meu coração. No outro lado, estão todos aqueles que ainda posso tocar e amar.

Nome:
Localização: Aveiro, Portugal

Eternamente crisálida...

domingo, maio 07, 2006

Quero o teu mimo...



Mãe…onde estás que já não sinto o teu olhar?

Para onde te levaram as sombras que sempre nos perseguiram?

No silêncio da noite ergo a cabeça e tento escutar-te… chamo por ti e tu não me respondes, mãe! Deslizo as minhas mãos pelos lençóis e sinto a tua presença, mas não te ouço… não te vejo…

Mãe…mãe… anda para junto de mim. Senta-te ao meu lado e toca-me nos cabelos de que tanto gostavas. Deixa-me ouvir a tua voz melodiosa de quando me perguntavas:
-- Gracinha… está tudo bem, minha filha?

Mãe… chamo tantas vezes por ti… peço-te que me ajudes a ser feliz, mas tu não me escutas.

Quando regresso da escola, olho para o banco onde estavas sentada a sorrir para mim… o banco está agora carcomido… as lascas da tinta esvoaçam ao vento… o pó entranhou-se nas fissuras da minha alma.

Onde estás, mãe? O sol já aqueceu e espera por ti nesse banco onde se sentaram todos os que amei e já partiram.

Sabes… o teu quarto está fechado desde o dia que partiste para a tua longa viagem e a janela continua semi-aberta para que possas olhar o quintal que floresce.

Junto à tua janela floresce agora o alecrim com que decoravas o meu ramo de Páscoa… lembras-te, mãe? Tem ramos lindos para decorares a cruz dos teus meninos em Domingo de Ramos e o aroma que dele se exala lembra-me o cheiro do rosto com que me beijavas.

Mãe porque me deixaste assim só? Porque não me levaste contigo para ver o meu pai? Tenho saudades da voz dele… diz-lhe que quando for para junto de vós quero ficar bem aconchegada no vosso colo com o boneco que me ofereceste quando o pai partiu… quero sentir os vossos beijos e o mimo das vossas mãos.

Mãe… estende a tua manta por cima de mim e deixa-me voltar aos dias em que brincava debaixo do limoeiro a fazer quintalinhos dos junquilhos que cuidavas para mim.

Mãe… fica junto de mim até à hora da minha partida.

Amo-te minha MÃE!

Maria Rosmaninho



8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Chorei com este teu post.
A saudade na alma e a lembrança do amor;amor total sem barreiras,nem ilusões.
Beijinho grande
Maria

07 maio, 2006 19:48  
Anonymous Anónimo said...

Verdadeiramente comovente!!

Chorei!!

Não encontro palavras para comentar!!
Beijo desta tua amiga
Aninhas

07 maio, 2006 20:09  
Blogger Unknown said...

também me fizeste chorar... e tenho uma certeza... esses teus dois anjinhos estão sempre a cuidar de ti... são aquelas duas estrelas brilhantes ... ali no céu ... consegues vê-las maria...

cada raio de brilho seu , são um mimo, um afago, um cuidado....um estar permanente....

um beijo doce e um forte abraço

07 maio, 2006 22:48  
Blogger lisa said...

lindíssimoooo!

Um beijo e uma lua.

09 maio, 2006 17:46  
Anonymous Anónimo said...

O texto está brilhante, mas não quero aqui falar de sintaxe...
Chorei ao lê-lo, por me lembrar dela, do banco em que se sentava, aquele mesmo para o qual tantas vezes continuei a olhar mesmo sabendo que o ia encontrar vazio, desvanecido de cor...
A cada passagem, os retalhos tornaram-se vividos para mim, como um filme que me passou diante dos olhos.

Percebi também, que ambos estão e sempre estarão bem vivos dentro de si... de outra forma seria impossível chegar a tão vivida memória.

Um Beijo Muito Grande!

10 maio, 2006 22:27  
Anonymous Anónimo said...

Doçura, meiguice, carinho
Palavra pura, singela
Em teu ventre absorvi o alimento da vida ....
Teu encanto ....
Tua humildade ....
Tua ternura!
Em troca dei meu primeiro suspiro e chorei em gratidão
Você sorriu e teus olhos banharam-se em lágrimas
Era a pura felicidade .....
O teu sonho concretizado!
E em teu seio saciei minha fome ....
Suguei o âmago do teu ser ...
Tua caridade fecunda e infinita!
Ah! Mãe Querida ... nada em troca me pediu .... apenas sorria!
Teus ensinamentos me enriqueceram a Vida!
Toda sua dedicação
Toda sua preocupação ....
Como agradecer?
Rezo por ti mãe querida!
Por tua saúde ...
Por você que é a razão de minha vida!
Obrigada mãe querida!

14 maio, 2006 00:45  
Anonymous Anónimo said...

Pim

Sou realmente muito aselha nestas coisas de blogs, ando para aqui a repetir palavras e esta "engrenagem" acaba por apaga-las!

Adorei ler-te. Sensibilizaste-me muito. Continua, tens alma de poeta.

Ao ler este teu verso, só me lembrei do nosso Eugénio de Andrade, aqui o tens:


POEMA À MÃE


No mais fundo de ti,
Eu sei que te traí , mãe.

Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste
que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e que até o meu coração ficou enorme, mãe!

Olha – queres ouvir – me ?-

às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:

Era uma vez uma princesa
no meio do laranja…

Mas - tu sabes – a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.

Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

l___________________________________
Com um beijinho, quase real

Ginja

30 maio, 2006 22:57  
Blogger Borboleta said...

Muito bonito... Realmente uma mãe faz muita falta. Não é só nos momentos maus da vida, mas sim em todos. Restam as recordações... Não sei o quanto dói, mas sei que a dor não passa... A vida é por vezes é injusta... Ou quase sempre.
Beijinhos

09 junho, 2006 22:04  

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