Retalhos de uma Manta Inacabada

Sou uma manta, cuidadosamente, tecida com os mais puros retalhos de seda selvagem e burel, cujas cores o tempo se encarregou de avivar ou desmaiar. Nela vão resistindo pequenos retalhos do bibe de xadrez com que brincava no jardim encantado do sonho. Num dos lados, repousam enormes retalhos de todos aqueles que já partiram, mas que conservarei para sempre no meu coração. No outro lado, estão todos aqueles que ainda posso tocar e amar.

Nome:
Localização: Aveiro, Portugal

Eternamente crisálida...

sexta-feira, abril 21, 2006

Sol e Lua


Era um vez... assim começam as histórias de encantar e de desencantar...
Era uma vez o Sol que vivia no seu castelo de altas ameias. Perto dele habitava a Lua... Manhã após manhã, o Sol erguia-se e estendia os seus braços pelo mundo que ansiosamente o esperava e o seu sorriso inundava as almas de todos aqueles que o contemplavam enlevados... os seus olhos eram o céu azul onde na noite escura caminhavam as estrelas. Esses olhos eram o caminho de todos os viajantes e era nesse azul que procuravam caminhos de luz, ternura, vida...
Perto dali, naquela morada perdida no meio de um deserto milenar, vivia a Lua. A Lua era a princesa de um reino de outrora e, quando a escuridão tapava os olhos do Sol, ela começava a despontar delicadamente nesse infinito de pontos cintilantes. Timidamente, ela ía iluminando a existência daqueles que procuravam na noite o sentido para a vida.Sol e Lua eram, afinal, os caminhantes de um mundo de sonho e mistério e caminhavam lado a lado sem nunca se terem encontrado.
Um dia, o Sol adormeceu no meio dos seus lençóis do mais puro cetim azul estelar, envolto nos seus dourados raios de luz e esqueceu-se de regressar ao seu castelo. A Lua, ergueu-se da sua cama de nuvens... vestiu a sua capa cintilante, ergueu-se nesse céu ainda azul e encontrou o Sol.
_ Quem és? -perguntou o Sol.
_ Eu sou a Lua... aquela que se passeia no céu do teu olhar e mostra o caminho aos viajantes.
-- Engraçado... nunca te tinha visto por aqui.
_ Eu também não, mas conhecia os teus raios que aqueciam a terra onde deixo o meu orvalho em cada manhã.
-- Gostava de ter adormecido há mais tempo para poder saudar-te como hoje.
_ Só hoje adormeceste e só hoje me poderás ver. Amanhã, quando eu me erguer, já não estarás aqui e jamais voltarás a enlear-me nos teus longos cabelos de oiro e a deixar-me passear no azul do teu olhar.
-- Mas eu quero ver-te... quero sentir-te nesse teu leito feito de nuvens e magia.
-- Sabes, muitas vezes julgamos querer e não queremos... muitas vezes nos deixamos trair por aquilo que julgamos ser... e não é.
-- Mesmo assim quero voltar a encontrar-te... quero sentir-me espelhado em ti.
-- Sim, Sol, poderás espelhar-te em mim sempre que esconderes os teus raios e vieres sentar-te a meu lado ciciando histórias de anões e duendes, de mestres e aprendizes...
-- Obrigado, Lua, assim farei. Até logo.

-- Até logo Sol.
A Lua partiu para mais uma das suas longas caminhadas pelo caminho das estrelas e o Sol recolheu-se aos seus aposentos reais. No dia seguinte, quando a Lua se aproximou para o acordar com os seus braços cobertos pela geada do amanhecer, o Sol, ofuscado pelo fulgor dos seus raios e estonteado pelo brilho das gotas do orvalho, não a reconheceu e vedou-lhe a entrada no seu castelo de largas ameias duras e impenetráveis. A Lua bateu à porta, mas a lava solidificada do Sol tornou-se demasiado dura para que ele percebesse que aquela era a Lua com quem partilhara a noite anterior... porque estava coberta com as gotas do orvalho da manhã.
Sol e Lua caminham agora no mesmo espaço sideral, mas separados pelo gélido muro do mutismo e da indiferença que transmitem aos homens dia após dia.

Maria Rosmaninho


5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Essa Lua pode encontrar outro Sol pois o Universo é Infinito! Parabéns!

23 abril, 2006 04:30  
Blogger António said...

Olá, Maria!
Obrigado por me teres informado da criação do teu blog.
Vou criar um link para ele no meu.
Ainda não li nada.
Depois cá virei.
Parabéns!

Beijinhos

(este último post tem uma letra muito pequeninha; é difícil de ler para um velhote como eu...eh eh)

23 abril, 2006 14:11  
Blogger Maria Rosmaninho said...

Luís

Obviamente que sim, mas este texto é apenas a ilustração dos desencontros da vida.

Obrigada

23 abril, 2006 23:06  
Blogger Maria Rosmaninho said...

António

Obrigada pela tua visita e vai aparecendo.

Um beijo

23 abril, 2006 23:06  
Anonymous Anónimo said...

Excellent, love it! » » »

05 fevereiro, 2007 00:21  

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